sábado, 22 de setembro de 2007

Zamora

Este assunto mexeu muito comigo e resolvi escrever um pouco sobre isso.
O assunto mais comentado esta semana no meu colégio foi o afastamento do professor de Espanhol por motivos de saúde. Zamora é o nome dele.

Nunca fui muito chegada em espanhol, não é uma matéria que tenho afinidade e nem uma língua que chama atenção. Por isso, nunca prestei muita atenção no Zamora. A única coisa que eu sabia(ou, que pelos menos diziam os boatos) era que ele tinha uma doença muito grave e que poderia matá-lo. Um tempo depois descobri que os boatos eram verdadeiros e que meu professor sofre de um câncer avançado no pulmão e as chances de cura são muito pequenas.

Toquei a vida normalmente após descobrir e, às vezes cheguei a duvidar da autenticidade das informações, afinal, ele me parecia tão bem! Sempre de bom humor, rindo e fazendo piadas quase incompreensíveis devido ao sotaque espanhol.

Agora, Zamora não está mais dando aula pois será submetido a uma cirurgia de risco(pelo que me disseram,será segunda-feira agora). Os depoimentos dos professores quando falavam de Zamora no decorrer da semana eram sempre os mesmos: “Ele é muito corajoso!”, “Esse é um homem que merece respeito”.

E merece mesmo, eu mesma sei como não é fácil passar por uma situação como essa. Nem todos reagem da mesma forma ao descobrirem que a morte quase certa está próxima de nós. Não é exagero! A vida é muito frágil e as pessoas parecem não ter noção disso. Podemos deixar o mundo a qualquer hora, seja em um acidente de carro, uma doença, ou até mesmo um escorregão no banheiro que nos faça bater a cabeça no chão.Somos frágeis, assim como a vida, pois não temos nenhuma garantia se haverá o dia seguinte. É por isso que devemos valorizar ao máximo o tempo(pouco) que temos. Cada momento que perdemos é um momento que não se repete. A vida pode ser bonita e tranqüila, mas temos o péssimo hábito de reclamar da nossa e, assim, complicar as coisas muito mais do que na realidade elas são. Existem pessoas com problemas muito maiores que os nossos; famílias que perdem entes queridos em assaltos, crianças morrendo de fome em esquinas próximas de nossas casas e o próprio Zamora!

Aposto que meu professor, mesmo esperando pela cirurgia que talvez o salve, não está choroso e se lamentando em um canto por causa disso, mas sim, lutando para ficar bom e voltar a ter saúde! Coloque-se no lugar dele. É assim que precisa ser, mesmo afronte das maiores dificuldades temos sempre que lidar com as coisas com um sorriso no rosto e não deixar os problemas nos consumir.

A única coisa que lamento foi não ter prestado a devida atenção ao meu professor. Eu sabia que ele estava doente, mas nunca fui capaz de chegar nele e perguntar como estava, ou dizer algumas palavras reconfortantes.

Há quem acredite que o melhor é não falar nada ,pois acham que a pessoa não vai querer mais um sentindo pena dela, ou que poderá vir a se chatear com algum comentário.

Mas isso é pura besteira, não sei o que leva as pessoas a pensarem assim. Ah! Como eu queria que as pessoas soubessem como uma palavra de afeto faz diferença em horas como essas.Foi comprovado que o bem-estar emocional reflete diretamente no físico e mental.Já passei por um problema, não tão grave como a do meu professor, mas parecido e posso contar nos dedos o número de pessoas que pelo menos uma vez chegaram em mim e disseram algo do tipo: “Você vai ficar bem!”, ou “Se precisar estou aqui, viu?”. Não sei o que acontece, mas a grande maioria das pessoas tende a se afastar nas horas que mais precisamos.

Eu mesmo me incluo nessa. Jurei para mim que, não importava quem, jamais deixaria alguém que precisa sem meu devido apoio e carinho. Tenho vergonha pois eu que já passei por isso não pude cumprir meu juramento. Falhei onde falharam comigo.

Tenho medo de não encontrar mais meu professor, de não ter a chance de dizer tudo que deveria ter dito, de dar o apoio que não dei...

Não sigo nenhuma religião, mas acredito em milagres,fé e, principalmente, na medicina. O que posso fazer agora é torcer para que tudo dê certo durante e após a cirurgia, para ele se cure,definitivamente, desse mal que é o câncer.

Sugiro à todos que não cometam o mesmo erro que cometi, pois o tempo que temos de vida é incerto e nem sempre temos a chance de dizer tudo que desejávamos para alguém.

"É possível mudar nossas vidas e a atitude daqueles que nos cercam simplesmente mudando a nós mesmos." (Rudolf Dreikurs)

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